Educação Permanente: Saúde e Educação em uma Perspectiva Integradora
Unidade I
Atividade 3
Rede de cogestão de coletivos
Cada um lê com os olhos que tem, e interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto.
(BOFF, 1998).
3 semanas
Síntese da Microintervenção realizada
Esta atividade irá ajudá-lo na elaboração da introdução (descrição do tema e do problema, e da justificativa) do seu projeto de intervenção. Lembre-se de retornar a ela quando estiver elaborando seu trabalho de conclusão de curso.
A educação permanente destaca a importância de espaços coletivos, nos quais diversos atores trabalham em conjunto na identificação de problemas e ações para seu enfrentamento.
Os problemas da realidade social e do trabalho, para serem compreendidos, precisam ser observados a partir das relações existentes entre os atores, já que convivemos em cenários com múltiplas interpretações e construções.
A diversidade de atores traz compreensões diferentes acerca dos problemas e seus condicionantes, segundo seus valores, posições e interesses, o que permite, entre outros aspectos, entender os sujeitos e relações que produzem as práticas nas quais se pretende interferir. Cada um percebe a realidade desde seu lugar.
Ao colocar os problemas em roda, possibilita-se ampliar a compreensão dos diversos olhares e de suas concepções, favorecendo a construção coletiva dos saberes.
A estratégia que a educação permanente propõe é o compartilhamento de saberes, ideias e ações, a partir da reflexão sobre as práticas de trabalho e trocas de experiências do cotidiano, construindo novas possibilidades de atuação.
A proposta de constituição de um grupo de atores implica ter tempo e espaço adequados para reuni-los, além de um propósito claro com definição de papéis e responsabilidades. O manejo do grupo implica respeito às ideias, ao silêncio e às resistências, além de clareza na definição de como será tratada a informação ali partilhada.
Esta atividade propõe a realização de uma primeira microintervenção, que inicie a construção de um coletivo de educação permanente ou estimule coletivos existentes em seu local de trabalho, a partir da recuperação das reflexões feitas até este momento sobre os conceitos de educação e saúde e a linha do tempo. Assim, iniciaremos a utilização da caixa de ferramentas por meio da ideia conceitual de rede de cogestão de coletivos. A atividade está dividida em três etapas.
O curso trabalha com o conceito de caixa de ferramentas, construído no contexto do curso Formação de Facilitadores de Educação Permanente (FIGUEIREDO et al., 2014), que inclui três grandes ideias conceituais: rede de cogestão de coletivos, rede explicativa de problemas e nós críticos e rede analisadora de processos de trabalho. Veremos as duas outras ferramentas no decorrer do curso, nas Atividades 7 e 8.
A microintervenção exige um planejamento para a sua execução. Sugerimos que, antes de iniciar as etapas a seguir, verifique quais são as atividades necessárias para a sua execução. Assim, caso julgue necessário, você poderá dar início às atividades do item “Preparando a reunião…” simultaneamente às leituras e demais atividades que a antecedem. Essa escolha poderá ajudá-lo a otimizar seu tempo.
Você pode incluir na síntese de sua microintervenção outros recursos como: vídeo, áudio, imagens, entre outros que escolher. A criatividade é bem-vinda neste momento!
Faça as leituras a seguir e registre os pontos que considere marcantes.
“Método para apoio a coletivos organizados para a produção: a capacidade de análise e de intervenção”
Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita (BOFF, 1998, p.9).
“A educação permanente como estratégia de gestão de coletivos”
Cogestão de coletivos, mediação de conflitos, negociação.
Cogestão de coletivos, mediação de conflitos, negociação
“O trabalho é uma atividade ou ato produtivo para a transformação de uma realidade social (FIGUEIREDO et al., 2014, p. 273).”
A cogestão ou gestão compartilhada, forma de organização horizontal do trabalho, deve ser desenvolvida em espaços coletivos e possibilitar o diálogo contínuo entre os diferentes atores e saberes. Trata-se de um caminho no qual existe autonomia e alta responsabilidade pelos processos coletivos.
Todo processo coletivo pressupõe negociar, isto é, buscar um ponto de equilíbrio entre os diversos pontos de vista e interesses.
“Negociação é um ato político, destinado a gerar viabilidade mediante acordos duradouros e respeitados entre atores sociais que têm interesses, poderes e recursos para enfrentar situações que os afetam mutuamente através de participação corresponsável e equânime” (GERUS, 1996, p. 190).
Em espaços coletivos, a existência de diferentes interesses, poderes e recursos faz com que se evidenciem conflitos. Uma forma de lidar com esses conflitos é a mediação, quando um ou mais atores contribuem para melhorar a comunicação e a negociação no grupo. É importante que todos colaborem na desconstrução dos impasses que imobilizam a negociação, ampliando alternativas, transformando um contexto de confronto em contexto colaborativo.
Para alcançar uma proposta pactuada que represente o pensamento de todo o grupo, é preciso abandonar a noção de “única verdade” ou “concepções corretas”.
A mediação se mostra especialmente adequada para o manejo de conflitos em relações de natureza contínua, como, por exemplo, nas relações de trabalho, nas quais o conflito pode se constituir em oportunidade de crescimento, transformação e fortalecimento dos vínculos que unem as pessoas.
Lembre-se de que todo ponto de vista é a vista de um ponto, portanto, nesse momento, não se trata de um ponto de vista prevalecer sobre outro, mas de compreender todos os condicionantes que afetam o processo de trabalho.
Realize a microintervenção: “Construindo o coletivo de educação permanente”
O filme O dia em que Dorival encarou a guarda, visto na Atividade 2, pode ser disparador da discussão sobre gestão com sua equipe de trabalho.
Preparando a reunião
Entre em contato com a gestão de sua escola ou unidade de saúde informando a atividade a ser realizada.
Nesse momento, esclareça que a ideia é construir um coletivo de educação permanente em seu local de trabalho. Você poderá aproveitar espaços coletivos existentes ou propor novos espaços, além de identificar atores, convidando-os para participar desse primeiro encontro.
Elabore um relato da sua vivência no 1º Encontro presencial para apresentação ao grupo, trazendo elementos sobre as concepções de educação, saúde e educação permanente. Para subsidiar as discussões, recomendamos que você realize as leituras complementares a seguir:
Converse com o grupo e apresente sucintamente a proposta do curso. Apresente também o relato da sua vivência no 1º Encontro presencial.
Inicie a reunião esclarecendo que a ideia é a construção de um coletivo de educação permanente em seu local de trabalho. Converse sobre a dinâmica desse coletivo de educação permanente: participantes (são esses atores mesmo? Falta algum ator-chave? Como incluir representação da população?), objetivos, agenda de encontros, entre outros pontos.
Proponha uma dinâmica para conhecer as concepções dos participantes sobre educação e saúde.
Estimule a discussão com perguntas, como, por exemplo:
Existem semelhanças e diferenças entre as respostas?
Você consegue perceber como as concepções teóricas que temos podem influenciar e determinar nossa prática?
Como as concepções de educação e saúde interferem nas práticas cotidianas do seu trabalho?
Elabore um texto sobre a microintervenção realizada, contendo:
Descrição da experiência na construção de coletivo de educação permanente;
Considerações sobre a interferência das diferentes concepções de educação e saúde nas práticas desenvolvidas;
Reflexões sobre o papel da educação permanente na problematização das práticas;
Envie o texto ao seu tutor pelo AVA.
Vamos, agora, para a Atividade 4 – Olhares para o território.