Unidade de Aprendizagem III

Gestão da atenção à saúde

Módulo 10 – Organização da atenção

Ao preparar o café da manhã, Rita e seu marido pensam em sua situação: ao se casarem decidiram se mudar para outro estado, não tiveram filhos e todos os parentes continuaram morando em seu estado natal. A família de Carlos insistiu para que voltassem, mas eles preferiram ficar em sua própria casa. Tinham um relacionamento de décadas com a vizinhança e achavam que não se adaptariam a um ambiente agora estranho, ainda que amassem muito seus familiares. Agora, esquecem por algum tempo de sua situação e sentam para tomar o seu café da manhã.

 

Passado um mês da consulta com o médico da ESF, não tinham ainda recebido o tal telefonema com a marcação da consulta do especialista.

 

Carlos procura novamente o médico da Saúde da Família e relata o ocorrido. Preocupado com a demora e o estado clínico do paciente que parecia agravar-se com a persistência da hemorragia, o médico prescreve uma medicação para reduzir o sangramento e resolve solicitar uma colonoscopia com urgência, mesmo sabendo que a regra do SUS permitia apenas a solicitação desse exame por um especialista.

 

Carlos e Rita mais uma vez voltam para casa sem solução para o seu problema. A angústia só aumenta a cada dia.

 

O pedido de marcação do médico da Saúde da Família é negado!

 

Depois de três meses do primeiro atendimento, a consulta com o proctologista é marcada, e o especialista solicita uma colonoscopia.  No entanto, recebem o aviso de que o exame será para dali a dois meses, apesar da solicitação de urgência, e será realizado em um município vizinho.

 

Após dois meses, Carlos finalmente realiza a colonoscopia, mas o laudo só estaria disponível depois de 15 dias. Ele imaginava que teria o resultado no mesmo dia. Retorna para casa e pensa como será se tiver que fazer um tratamento fora de sua cidade, se terá dinheiro para tantas passagens, para a comida dele e de sua mulher. Vivem da pensão que Carlos recebe, dinheiro cada vez mais curto.

 

Após 15 dias, Carlos pega o resultado do exame. Curioso, lê o laudo, mas não consegue saber se o que tem é ou não ruim.

 

Carlos leva o resultado ao médico especialista.

 

- Doutor, só agora estou com o resultado do exame que o senhor me solicitou há dois meses. Enfrentei tantos problemas... Está cada vez mais difícil fazer marcações de consultas e de exames – explicou Carlos.

 

- É, esse é um problema difícil de resolver..., mas vamos ao exame. Pelo que posso ver aqui, há um tumor. Precisamos fazer rápido uma tomografia computadorizada para saber a extensão da doença.

 

- Ai, doutor, outro exame? – angustia-se Rita.

 

- Seu Carlos, não vou enganá-lo, é preciso fazer o exame o mais rápido possível, mas temos que seguir as normas de marcação de consultas e exames.

 

Carlos sai novamente desolado. O que fazer? Mais uma vez esperar pelo telefonema avisando da data de marcação do exame. Quanto tempo levará desta vez?

 

Rita pensa em fazer o exame particular, mas descarta rapidamente a ideia; as dívidas que acumulava não permitiam que ela pensasse nessa possibilidade.

 

Após dois meses, Carlos realiza a tomografia e o resultado indica tratar-se de uma lesão extensa. Dessa vez ele lê o laudo e consegue perceber a gravidade. Leva rapidamente o resultado para o proctologista, que decide pela indicação de quimioterapia associada com radioterapia. Não podemos perder mais tempo – resume o médico.