Unidade de Aprendizagem III
Gestão da atenção à saúde
Módulo 10 – Organização da atenção
Cena 7 – Carlos tem o sinal de alerta
Carlos, 65 anos, mora num município de 50 mil habitantes.
Nesse município existem dez equipes de Saúde da Família, cobrindo 80% da população, e um hospital municipal, com um pronto-socorro, ambulatórios e 50 leitos de clínica médica e pediatria. Existem também no município dois laboratórios de apoio diagnóstico, conveniados. O município depende de outros municípios e do estado para a realização de consultas e exames mais especializados.
O bairro onde Carlos reside conta com uma unidade de Saúde da Família. A unidade funciona das 7h às 17h, de segunda a sexta, mas não funciona nos finais de semana. Carlos faz parte de uma das famílias acompanhadas pela Estratégia Saúde da Família (ESF), embora não costume ir às consultas marcadas.
A história de Carlos começa num sábado. Ao acordar, sente fortes dores abdominais e verifica a presença de sangramento ao evacuar. Já vinha percebendo mudanças em seus hábitos intestinais, isto é, constipação que acontecia independentemente do que viesse a comer. Temeroso por já ter tido um caso de câncer na família, Carlos logo procura atendimento médico e é levado por sua mulher, Rita, ao pronto-socorro municipal, já que a Unidade Básica de Saúde (UBS) onde é cadastrado não abre nos finais de semana.
No pronto-socorro, Carlos espera por algumas horas e é atendido pelo plantonista.
- No que posso ajudar? – perguntou o médico.
- Hoje acordei com dores e tive sangramento nas fezes, doutor. E também tenho tido uma grande dificuldade de evacuar... – respondeu Carlos.
- Quando foi a última vez que o senhor foi ao médico?
- Sou acompanhado pelo médico do posto, mas confesso que tenho faltado às últimas consultas marcadas.
- O senhor já foi alguma vez ao proctologista?
- Não, senhor.
- Pois bem, vamos ver isso.
O médico o examinou e concluiu:
- Por ora, vou lhe receitar um analgésico. Mas procure, com urgência, o médico da sua unidade e relate o ocorrido. Ele poderá encaminhar o senhor para um especialista – finalizou.
Carlos sai do pronto-socorro com sua esposa muito preocupada: não queria adiar uma solução para o caso de seu marido.
Na manhã de segunda-feira, Rita acorda o marido cedo e rumam para a UBS. Havia uma pequena fila em frente à unidade. A enfermeira recebe Carlos e ele explica o ocorrido. Carlos consegue ser logo atendido e o médico da Saúde da Família o examina.
- É, seu Carlos, parece que temos uma hemorragia aqui e também tem a mudança em seu padrão digestivo, além da perda de peso – resume o médico.
- É grave, doutor? – questiona Rita.
- Não posso ainda afirmar. É preciso ter a opinião de um especialista. Vou pedir que o senhor vá a um proctologista para que possamos ter uma segunda opinião. Além disso, só o especialista poderá solicitar um exame mais específico, como a colonoscopia. Mantenha a medicação receitada pelo médico do pronto-socorro caso venha a continuar a dor.
O médico preenche o papel de solicitação de marcação de consulta para atendimento pelo especialista por intermédio do Sistema de Regulação de Vagas (Sisreg) e dá a Carlos para que seja entregue na secretaria da unidade.
Carlos sai da unidade com a recomendação de que aguarde o contato telefônico com a marcação de sua consulta. Está triste e pensativo:
– Um sangramento... Será um câncer? Será que estou com um câncer, assim como meu avô? – angustia-se Carlos. E esse pedido do médico? Onde tem proctologista aqui no município? Será que vai demorar a marcar?
Carlos sai da unidade sem discutir suas dúvidas.