Agora leia a Cena 5: O que o coração vê e sente

Nesse dia, Cíntia acordou não se sentindo muito bem, estava com tonturas e mal-estar. Pegou a bolsa e foi para o posto de saúde buscar um atendimento. Quando chegou ao posto, a fila era enorme e, como não estava agendada, precisou aguardar um tempo até conseguirem um encaixe. Depois de quase três horas de espera, a auxiliar de enfermagem aferiu sua pressão e detectou um pico hipertensivo. A partir disso, orientou Cíntia sobre os riscos relacionados à hipertensão e os cuidados necessários.

Cíntia ouviu a profissional de saúde sem muito entusiasmo. Ela sabe que deve se cuidar, mas seu problema não parecia poder ser resolvido numa unidade de saúde... Enquanto pensava tudo isso, sua amiga Joana, que atuava como agente comunitária de saúde da unidade, aproximou-se.

– Cíntia, que alegria encontrar você! Está tudo bem?

Cíntia explicou o que se passava e Joana a ouviu atentamente. Os problemas de Cíntia extrapolavam o mal-estar físico, o dia a dia não estava nada fácil. Seu filho e sua nora estavam desempregados, no momento faziam pequenos biscates, ela cuidava dos dois netos pequenos e havia dias que não tinha nada para cozinhar. Como sempre trabalhou como diarista, sem carteira assinada, não conseguiu se aposentar. O sofrimento de Cíntia era tão silencioso quanto sua hipertensão, mas ao encontrar Joana conseguiu desabafar.

Usava seus chás para se acalmar, mas passava as noites despertando a toda hora, principalmente por não saber se no dia seguinte a situação se resolveria. O problema social estava posto.

Joana, ao ouvir atentamente Cíntia, perguntou:

- Você já procurou o Cras? Por que você não busca o Benefício de Prestação Continuada (BPC)?

Joana explicou a Cíntia como deveria fazer para buscar este benefício, que tinha direito por ser idosa e com baixa renda.

A conversa com Joana serviu para Cíntia como um momento de reflexão. Cíntia percebeu que precisava buscar outras formas de enfrentamento do problema. De um lado, não podia esquecer de cuidar-se, precisava mudar de atitude, melhorar seu estilo de vida e não negligenciar-se para evitar complicações de saúde futuras; de outro, percebeu que não pode sozinha dar conta do problema que enfrenta em casa, que toda a família precisa de ajuda e a unidade de saúde, assim como outros serviços públicos existentes no território, podem ser um ponto de apoio para toda a família.

Nesse momento, Joana ajudou Cíntia a localizar possibilidades de ajuda no território e reforçou o convite para participar do grupo de apoio na unidade.

− Cíntia, você vai gostar do grupo, conhecer novas pessoas e perceber que existem problemas diversos e muitas ideias que nem imaginava...