Leia a Cena 3: Maria visita Lúcia

Maria chega na casa de Lúcia para contar as novidades do encontro da turma do colégio e ver se anima a amiga a se juntar ao grupo numa próxima oportunidade. Lúcia a recebe sem muito ânimo. Os últimos dias foram de muita dor. A história de Lúcia vinha se arrastando há uma década ...

 

Tudo começou com uma osteoporose, as dores vinham de todas as partes, joelho, costas, pés, mãos. Lúcia sempre foi uma pessoa saudável e seus exames sempre indicavam uma ótima condição, mas seus ossos de um momento para outro a traíram e junto com as dores físicas chegou a depressão. Lúcia não se conformava em depender de outros para fazer suas coisas.

 

Sua vida sempre foi de muito trabalho. Criou sozinha três filhos, comprou sua casa com o esforço de muitos doces feitos madrugada a dentro. Era uma doceira de mão cheia, como diziam os amigos. Seus bolos eram solicitados pela elite da cidade e não havia bolo de casamento que não fosse feito por Lúcia. A vida era agitação pura e quando suas mãos, pernas e costas começaram a falhar, resistiu ao máximo, mas chegou uma hora em que teve que parar. Agora, sua filha mais nova fazia os bolos e ela acompanhava como podia...

 

Lúcia buscou o centro de saúde próximo a sua casa assim que as dores começaram, mas não obteve muito sucesso. Receitaram anti-inflamatórios e repouso. Nada disso resolveu. Insistiu. O médico, então, entendeu que deveria encaminhá-la para um especialista e solicitou a marcação da consulta pela Central, que indicou um bairro do outro lado da cidade. Foram seis meses de espera. Nesse momento, Lúcia já andava devagar, pois sentia muitas dores e tinha muita dificuldade para caminhar. Passou por momentos difíceis.

 

Ouviu desaforos no ônibus cada vez que precisou se deslocar. Muitas vezes fez as viagens em pé, apesar dos lugares especiais muitas vezes ocupados por jovens e adultos saudáveis. Nessas ocasiões Lúcia pensava:

 

- As pessoas pensam que nunca vão envelhecer ...

 

Fez muitos exames, vários pagos, e depois de alguns anos e muita dor chegou a um diagnóstico taxativo de osteoporose, mas no município não tinham profissionais e atenção adequada a seu caso. Resumo: Lúcia precisa tomar remédios caros e fazer fisioterapia, nenhuma das situações disponíveis na atenção à saúde municipal. O que ganha (salário mínimo de referência) ajuda a filha a sustentar a neta. Depois de quase cinco anos tentando resolver seu problema, Lúcia encontra-se hoje em casa, com muita dificuldade de locomoção e uma depressão gravíssima. A família não sabe mais o que fazer.

 

Maria acompanha os anos de sofrimento da amiga e o que pode fazer para ajudar faz, mas também encontra muitas dificuldades, além de não saber mais como ajudar.

 

As visitas de Maria em geral animam Lúcia e desta vez as histórias dos amigos as fizeram compartilhar algumas horas de alegria.