Tópicos Módulo 6

Introdução

Neste módulo, são apresentados os principais tópicos que tratam da segurança do trabalhador da área de saúde.

Esses tópicos incluem a biossegurança, o gerenciamento de resíduos, a limpeza e a desinfecção de superfícies e de equipamentos e o processamento de materiais, entendendo tais conceitos como elementos necessários no cotidiano de uma AT.

Por estarem localizadas dentro de um hospital, as AT normalmente estão inseridas nos protocolos de segurança da instituição.

No entanto, é importante que os gestores conheçam e entendam os objetivos de cada um desses temas, as ações que estão sob sua responsabilidade e como se aplicam no dia a dia.

No Brasil, o direito dos trabalhadores à segurança no trabalho é garantido pela legislação e por normas regulamentadoras, citadas neste texto. No decorrer do estudo deste módulo, verifique se no serviço em que você atua existem protocolos de segurança e como eles se aplicam. Reflita sobre os pontos que poderiam ser melhorados.

Gerenciamento de resíduos e biossegurança

Imagem extraída do vídeo produzido pela Asfoc/Fiocruz (2017).

Tópicos Módulo 6

Biossegurança

Biossegurança é a condição de segurança alcançada pela implementação de um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar os agentes de risco inerentes às atividades e ao ambiente. Visam à proteção da saúde humana, à qualidade do trabalho realizado, à proteção dos ambientes de trabalho interno e externo (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2010).

Quais são os agentes de risco inerentes às atividades da AT? Já pensou sobre eles e suas implicações?

Como as ações de segurança baseiam-se nos agentes de risco, é importante identificá-los.

Silueta

A Norma Regulamentadora n. 32 - NR 32,"Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde", do Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), é a norma que estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral (BRASIL, 2005). Essa norma é auditada por fiscais do MTE. Para conhecer mais, acesse o material complementar.

Norma Regulamentadora NR 32

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Agentes de risco nas agências transfusionais

Os agentes de risco são fatores de diferentes origens que oferecem perigo e risco de acidente. Estão presentes no ambiente de trabalho, nas atividades realizadas, no resíduo gerado, nos materiais e equipamentos utilizados. São classificados em químicos, físicos, ergonômicos, mecânicos e biológicos.

Se os riscos são de diferentes origens, qual deve ser a atitude do profissional para evitar a exposição a estes riscos?

Silueta

Boas práticas de biossegurança em laboratórios

Para reduzir os riscos de exposição aos agentes de risco é necessário aplicar as boas práticas laboratoriais na rotina diária, que incluem desde a organização da estrutura física e administrativa até a prática de ações que diminuem ou eliminam as causas que expõem a equipe a riscos.

A organização administrativa inclui:

  • elaborar e disponibilizar os procedimentos operacionais;
  • estabelecer rotina e escala de trabalho diário;
  • manter disponíveis os manuais de equipamentos;
  • definir protocolos para o manuseio seguro de materiais, equipamentos, produtos químicos específicos da área, quando necessário;
  • verificar regularmente as condições dos mobiliários quanto a integridade e resistência à limpeza diária e checar se permitem a postura correta do profissional na execução de suas atividades;
  • realizar atividades administrativas em local separado da área técnica;
  • definir fluxo linear, sequencial e unidirecional de atividades sempre que possível.

Fonte: Adaptado de Hirata (2002).

No que diz respeito à estrutura física dos laboratórios, esta deve atender aos requisitos da RDC/ANVISA 50/2002 (BRASIL, 2016a), suas atualizações, ou outro instrumento legal que venha a substituí-la.

O livro Hematologia e hemoterapia: guia para elaboração de projetos (BRASIL, 2012) apresenta sugestão de layout de estrutura física, equipamentos, resíduos e recursos humanos para as AT.

As boas práticas na execução de técnicas em laboratórios incluem ações e uso de barreiras para reduzir a exposição aos agentes de risco. Clique e acesse as boas práticas obrigatórias ou recomendadas para os laboratórios classificados como NB-2:

Amostras de sangue

Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

Além das técnicas de boas práticas, podem ser usadas barreiras para proteger os profissionais? Que tipo de barreiras?

Silueta

O tipo de EPI e de EPC é indicado de acordo com a atividade e o risco existente. A indicação de uso deve ser feita por profissional qualificado para tal. Os EPI são de uso individual e não podem ser compartilhados. O uso é obrigatório, conforme a indicação para tal.

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Equipamentos de proteção individual recomendados para as agências transfusionais

Os EPIs e materiais de proteção usualmente recomendados aos profissionais das Agências Transfusionais são:

Outros EPI podem ser recomendados de acordo com as atividades, como:

Cuidados no uso e na conservação de EPIs
Os EPIs devem ser inspecionados antes do uso, higienizados e guardados após o uso, em local exclusivo para esse fim. Devem ser observados os cuidados de limpeza e conservação recomendados para cada tipo de material.

Mesmo com o uso de EPIs, ainda ocorrem acidentes por diferentes causas. Por isso é importante que o responsável pela AT conheça os fluxos definidos pela instituição para o encaminhamento de funcionários que se acidentam, para atendimento médico e abertura de Comunicados de Acidentes de Trabalho (CAT), garantindo, assim, a assistência adequada e preservação de seus direitos.

Você já foi treinado sobre o uso de EPIs?
A equipe no seu local de trabalho recebe treinamento sobre o uso de EPIs e usa regularmente?
O que pode ser melhorado?

Higienização das mãos

A higienização das mãos é a principal ação para minimizar o risco biológico. É o procedimento mais simples e importante para a proteção individual e a prevenção da disseminação de contaminações e infecções em serviços de saúde.

Higienização das mãos

Fonte: iStock.

No laboratório, a higienização das mãos deve ser realizada sempre que estiverem visivelmente sujas e nas seguintes situações:

No seu local de trabalho existem pias exclusivas para a lavagem de mãos?
As pias e os produtos para higienização das mãos estão adequados?

A higienização de toda a superfície das mãos deve obedecer à técnica descrita no cartaz que segue, constante de manual da Anvisa (2016).

Higienização das mãos

Fonte: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2017).

Diferentes produtos podem ser utilizados para higienização das mãos, como os sabonetes comuns e os antissépticos (álcool, clorexidina, iodo/iodoforos e triclosan).
O uso de cada um é recomendado de acordo com o mecanismo de ação e conforme orientações da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH).
A lavagem das mãos com sabonete neutro seguida de desinfecção com álcool 70% é a higienização mais utilizada devido à eficácia da ação germicida decorrente da associação do sabão com o álcool.
Quando as mãos não estiverem visivelmente sujas, a higienização pode ser feita com preparações alcoólicas.

Tópicos Módulo 6

Gerenciamento de resíduos – tratamento

A Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa (RDC) n. 306, de 7 de dezembro de 2004, que dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2004), define que todos os serviços de saúde devem elaborar e implementar o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS). Esse é um documento que define e descreve as ações relativas ao manejo de cada tipo de resíduo gerado, considerando suas características e seus riscos, desde o local de geração até a disposição final. Tem como principais objetivos atender a questões legais, ambientais, de saúde ocupacional, manejo e minimização de resíduos.

Como estão localizadas dentro de um hospital, as AT estão inseridas no PGRSS da instituição.

Silueta

O responsável pela AT deve se certificar de que a AT está inserida no PGRSS do hospital, mesmo se estiver localizada fora dele.

Você conhece o PGRSS do local em que trabalha?
Já refletiu sobre a importância e a abrangência do gerenciamento de resíduos de serviços de saúde?

O gerenciamento de resíduos de serviços de saúde inclui as etapas de classificação, segregação, acondicionamento, coleta e transporte interno, armazenamento, coleta e transporte externo, tratamento externo e disposição final.

As etapas de segregação e acondicionamento ocorrem no local de geração, nos postos de trabalho, e as posteriores ocorrem fora desses locais.

O gerenciamento do resíduo começa na geração, então as equipes das ATs são responsáveis pela classificação, segregação e o acondicionamento corretos dos resíduos gerados. Devem ainda identificar a geração de novos resíduos e providenciar, junto com o gestor de resíduos da instituição, o manejo correto exigido pela legislação.

A equipe da AT deve receber treinamento para realizar corretamente a classificação, a segregação e o acondicionamento de cada tipo de resíduo gerado.

Observe, a seguir, o fluxo do resíduo desde a geração nas AT até a disposição final.

Fluxograma do manejo de resíduos gerados nas AT

Fluxograma do manejo de resíduos gerados nas AT

Fonte: Elaboração da autora.

A classificação do resíduo é feita de acordo com a contaminação e o risco apresentados.

Com base nessa classificação, a segregação e o acondicionamento são realizados em recipientes adequados.

Os recipientes usados para o acondicionamento devem ter características que garantam a segurança desde o local de geração, durante o transporte, até o destino final do resíduo. Devem ser compatíveis com o volume acondicionado e com o tipo de resíduo (sólido, líquido, perfurocortante). Todos devem estar identificados de forma a permitir o reconhecimento do tipo de resíduo.

O armazenamento externo deve ser feito em abrigo externo, em locais específicos para cada tipo de resíduo.

Abrigo de resíduos

Fonte: Web-Reol (2009).

Nos quadros a seguir, estão descritos os tipos de resíduo de serviços de saúde e a classificação de acordo com a RDC n. 306/2004 (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2004), além dos tipos de resíduo gerados nas AT, dos recipientes recomendados para acondicionamento e como devem ser identificados.

Classificação dos resíduos de serviços de saúde de acordo com a RDC n. 306/2004

Grupo A

Resíduos com possível presença de agentes biológicos que, por suas características, podem apresentar risco de infecção. Estão dividido em cinco subgrupos:

A1: Bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeitadas por contaminação ou por má conservação ou, ainda, com prazo de validade vencido, aquelas oriundas de coleta incompleta, sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos, recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde contendo sangue ou líquidos corpóreos na forma livre e outros resíduos.

A2: Resíduos provenientes de animais submetidos a processos de experimentação com inoculação de micro-organismos.

A3: Peças anatômicas (membros) do ser humano; produtos de fecundação sem sinais vitais.

A4: Bolsas transfusionais vazias ou com volume residual pós-transfusão, recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde e outros resíduos que não contenham sangue ou líquidos corpóreos na forma livre.

A5: Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais perfurocortantes ou escarificantes e demais materiais resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais, com suspeita ou certeza de contaminação com príons.

Nas AT usualmente são gerados os A1 e A4.

Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

A classificação de resíduos baseia-se nessa resolução. Cabe às instituições de saúde identificar o resíduo gerado e classificá-lo de acordo com essa norma.

Grupo B

Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.

Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

Grupo C

Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de isenção especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista.

Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

Grupo D

Resíduos que não apresentem risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares, como sobras de alimentos e itens recicláveis (papel, plástico, vidro e metal).

Fonte: Web-Resol (2009).

Grupo E

Materiais perfurocortantes ou escarificantes, como lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas, tubos capilares, micropipetas, lâminas e lamínulas, espátulas e todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de Petri), entre outros similares.

Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

Resíduos perigosos gerados nas AT, classificação e recipientes recomendados para acondicionamento

Resíduo Classificação (RDC n. 306/2004) Recipiente para acondicionamento Símbolo de identificação
Tubos de ensaio descartáveis com sobras de amostras de sangue. Grupo A - subgrupo A1 - galões com tampa que garantam a vedação e impeçam vazamento; ou
- se a instituição estiver conectada à uma estação de tratamento do esgoto (ETE), descartar as amostras (sangue ou soro) em pia exclusiva, e os tubos das amostras em saco plástico branco leitoso, contido em lixeira com tampa e pedal, identificados com o símbolo de risco biológico, conforme descrito no item 5.4.6 da RDC n. 306/2004.
Bolsas plásticas com hemocomponentes, frascos com sobras de reagentes. Grupo A - subgrupo A1 - sacos brancos duplos contidos em recipiente rígido, ambos identificados com símbolo de risco biológico.
Materiais sólidos com presença de matéria orgânica como luvas, frascos vazios de reagentes, equipos, gel e outros. Grupo A - subgrupo A4 - saco plástico branco leitoso dentro de lixeira com tampa e pedal, ambos identificados com símbolo de risco biológico.
Materiais perfurocortantes: ponteiras rígidas, vidrarias quebradas, outros. Grupo E - coletor para resíduo perfurocortante, identificado com símbolo de risco biológico.

Fonte: Brasil (2011, 2012).

A RDC n. 306/2004 define que os resíduos do subgrupo A1 devem ser tratados antes da disposição final e acondicionados em sacos vermelhos com símbolo de risco biológico, identificando os infectantes que precisam ser tratados.
A mesma RDC define que os resíduos do subgrupo A4 não requerem tratamento, mas devem ser depositados em aterro licenciado para esse tipo de resíduo. Nos estados em que é obrigatório o tratamento de quaisquer resíduos biológicos, como em São Paulo, o uso do saco vermelho não tem sido adotado, pois todos os resíduos biológicos são enviados para tratamento. Por isso é muito importante conhecer as legislações federal, estadual e municipal e seguir a mais restritiva. Resíduos perigosos segregados e acondicionados de forma errada colocam em risco a segurança do ambiente e das pessoas envolvidas nas etapas posteriores do manejo de resíduos.

Recipientes para acondicionamento de resíduos biológicos

Sacos vermelhos

Sacos vermelhos para resíduo biológico/ infectante que deve ser tratado antes da disposição final.
Observação: o responsável pela AT deve verificar junto ao gestor de resíduos e nas legislações estadual e municipal se o uso desse material se aplica à sua realidade.
Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

Lixeira

Lixeira com tampa e pedal.
Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

Coletores para resíduo perfurocortante

Coletores para resíduo perfurocortante.
Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

Sacos brancos

Sacos brancos para resíduo biológico/infectante.
Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

De acordo com a RDC n. 306/2004, as lixeiras disponibilizadas paras as áreas técnicas devem ter tampa acionada por pedal (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2004).

Resíduos não perigosos gerados nas AT, classificação e acondicionamento

Resíduo Classificação (RDC n. 306/2004) Recipiente para acondicionamento Símbolo de identificação
Materiais não recicláveis: papel toalha, etiquetas autoadesivas. Grupo D - Não Reciclável - lixeira contendo tampa, pedal e saco plástico, com identificação para resíduo comum não reciclável.
Materiais recicláveis: embalagens de papel, plástico, metal e vidro SEM contaminação. Grupo D - Reciclável - lixeira contendo tampa, pedal e saco plástico, com identificação para resíduo comum reciclável.

Fonte: Brasil (2011, 2012).

O volume máximo de preenchimento de sacos plásticos e recipientes para acondicionamento de resíduos deve ser de 2/3 da capacidade total.

Os coletores para resíduo perfurocortante apresentam, na face externa, indicação de volume máximo de preenchimento.

Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

A coleta seletiva de recicláveis deve ser feita em locais onde existe a possibilidade de enviá-los para cooperativas ou serviços que absorvam esse tipo de resíduo. Caso contrário, não é recomendado que seja implementada.

Gerenciamento de resíduos – Tratamento

A necessidade de tratamento antes da disposição final está definida na legislação, aplica-se aos resíduos perigosos e pode variar entre um estado e outro.

Por isso é muito importante acompanhar sempre as legislações federal, estadual e municipal e atender à mais restritiva. Essa é uma responsabilidade do gestor de resíduos da instituição, que deve ser compartilhada com as equipes das áreas geradoras.

Observe a seguir os tipos de resíduo gerados nas AT, o tratamento e a disposição final definidos pela legislação.

A equipe da AT deve participar dos treinamentos sobre o PGRSS oferecidos pela instituição, para manter-se atualizada e executar as ações conforme definido no PGRSS.

Verifique se em seu local de trabalho existe e como é feito o treinamento sobre gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.

Tipo de resíduo gerado na AT, tratamento e disposição final

Tipos de resíduo gerados na AT

Fonte: Elaboração da autora.

Responsabilidade das AT no gerenciamento de resíduos

A responsabilidade dos serviços geradores sobre o resíduo gerado permanece até a disposição final.

Assim, o responsável pela AT deve conhecer o fluxo do resíduo, desde a geração até a disposição final, para certificar-se do tratamento e da destinação final correta de cada tipo de resíduo gerado.

Esse conhecimento e essa responsabilidade devem ser compartilhados com o gestor de resíduos do hospital, a quem cabe garantir os fluxos corretos dentro e fora da instituição, treinando os colaboradores dos hospitais e das empresas terceirizadas, contratando empresas prestadoras de serviço - como transporte externo, tratamento externo e disposição final - aptas para prestar um serviço ambientalmente correto e de acordo com a legislação vigente.

As responsabilidades do gestor e da equipe da AT são conhecer o PGRSS da instituição, verificar se a AT esta inserida nele, proceder conforme definido no PGRSS, identificar a geração de novos resíduos e interagir e compartilhar decisões com o gestor de resíduos da instituição.

Gerenciamento de resíduos — considerações finais

Além de cuidar das etapas que ocorrem dentro das AT, os responsáveis por essas agências e suas equipes devem acompanhar diariamente a cadeia geradora de resíduo para identificar a geração de novos tipos.

Geralmente a inclusão de novas técnicas, a utilização de novos produtos e as mudanças de procedimentos são as causas da geração de novos tipos de resíduo.

Essa responsabilidade deve ser compartilhada com o gestor de resíduo da instituição para que, junto com ele, seja definida a forma correta de manejo.

Limpeza e desinfecção de superfícies e equipamentos

O risco biológico é o que usualmente gera maior preocupação em estabelecimentos de saúde, devido à variedade de microrganismos e à crescente resistência destes aos antibióticos e aos métodos de descontaminação de superfícies e materiais.

Técnicas corretas de limpeza associadas ao uso de produtos para limpeza e desinfecção visam a remover sujidades e possíveis microrganismos nelas presentes. Essa associação é importante, pois diferentes microrganismos podem permanecer na forma vegetativa sobre as superfícies por longos períodos de tempo, desde que encontrem condições ideais para isso, representando risco de causar infecções (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2010; TORRES, LISBOA, 2014).

As AT são classificadas como áreas críticas, pois apresentam maior risco de transmissão de infecções em função do tipo de atividade desenvolvida (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2012).

Todas as áreas hospitalares devem ser limpas diariamente (limpeza concorrente), e periodicamente deve ser feita a limpeza terminal.

O tipo, a frequência de limpeza e o produto que será usado são definidos em função da classificação da área hospitalar.

Limpeza e desinfecção de superfícies e equipamentos

As principais condições que favorecem a contaminação e a permanência de microrganismos viáveis nas superfícies são presença de sujidades (principalmente matéria orgânica), de superfícies úmidas, de mobiliários com revestimento que dificultam a limpeza ou com revestimento danificado, de materiais enferrujados, limpeza inadequada, ausência de protocolos de limpeza, entre outras.

As AT possuem diferentes tipos de superfície:

Limpeza de superfícies

Como é feita a limpeza no seu local de trabalho? Existe um planejamento? Quem são os responsáveis pela limpeza?
Observe a qualidade de limpeza do seu local de trabalho e se existem pontos que precisam ser melhorados.

Limpeza e desinfecção de superfícies

A limpeza do ambiente normalmente é de responsabilidade dos servidores contratados para esse fim e deve seguir um cronograma.

No entanto, a limpeza de algumas superfícies e em situações de derramamento de pequenas quantidades de matéria orgânica, recomenda-se que a limpeza e desinfeção sejam feitas pelos próprios colaboradores da área.

Técnica de limpeza e desinfecção de superfícies

A técnica de limpeza e desinfecção de superfícies consiste em aplicar um produto de limpeza seguido de um desinfetante.

Deve ser feita nas superfícies de toque frequente, diariamente, durante a limpeza concorrente realizada pelo serviço de limpeza e na ocorrência de derramamento de matéria orgânica com potencial infectante (ex.: sangue, fezes, urina e outros fluidos corpóreos).

Nessa situação, a limpeza e a desinfecção devem ser realizadas imediatamente após o derramamento, na seguinte ordem:

Produtos químicos recomendados para limpeza e desinfecção de ambiente

Para garantir a segurança que se propõe, é importante que os procedimentos de limpeza e a escolha de produtos para limpeza e desinfecção de superfícies estejam alinhados às ações de controle de infecção hospitalar e de biossegurança.

Os detergentes são usados para a limpeza de superfícies e de artigos de uso hospitalar, bem como para a lavagem das mãos. Possuem substâncias tenso-ativas, solúveis em água, dotadas de capacidade de emulsificar gorduras e manter resíduos em suspensão, removendo-os.

Os germicidas inibem ou destroem os microrganismos, podendo ou não destruir esporos, de acordo com seu princípio ativo. São classificados em esterilizantes, desinfetantes e antissépticos. Os desinfetantes são os indicados para uso em superfícies. Destroem microrganismos na forma vegetativa e podem destruir os esporos conforme seu princípio ativo. Existem diferentes tipos de desinfetante com princípios ativos distintos. A escolha do produto baseia-se no mecanismo de ação e também na relação custo-benefício de cada um. Os mais usados são:

A indicação de uso deve ser feita pela CCIH ou por profissional capacitado para isso, com base nas características das áreas, nas recomendações da legislação vigente e na literatura científica.

Os produtos usados para limpeza e desinfecção de ambiente hospitalar incluem detergentes e germicidas. Todos devem ter registro na Anvisa como produto para uso hospitalar.

Procedimentos e frequência de limpeza das AT

Todas as instituições de saúde devem ter procedimentos de limpeza descritos, baseados na prática da boa técnica e alinhados às normas de controle de infecção hospitalar e à legislação vigente (TORRES; LISBOA, 2014).

Por serem classificadas como áreas críticas, as AT devem ser limpas diariamente, com atenção especial às superfícies de toque frequente, como as bancadas, as maçanetas de portas, de geladeiras e freezers, os interruptores, os computadores, os telefones, os equipamentos para realização de testes e todas as superfícies utilizadas no desenvolvimento da rotina diária.

A limpeza terminal nas AT deve ser feita uma vez por semana.

Limpeza das AT

Foto: Cláudia Spegiorin Vicente.

A limpeza das bancadas requer atenção especial. O ideal é que seja feita mais de uma vez ao dia, entre a realização de uma técnica e outra, e sempre que a bancada estiver visivelmente suja. Recomenda-se que o profissional que trabalha na bancada remova o material biológico sempre que houver derramamento, aplicando a técnica de limpeza e desinfecção. Nessa limpeza, pode ser utilizado detergente neutro para uso hospitalar seguido de desinfecção com álcool 70%, ou pode ser utilizado um produto que reúna, em sua composição, ação de limpeza e de desinfecção como, por exemplo, os quaternários de amônio. Agilizar a descontaminação promove a segurança do ambiente.

Limpeza e desinfecção de equipamentos

Os equipamentos de laboratório devem ser limpos regularmente para garantir também a qualidade dos resultados obtidos e o funcionamento adequado.

Recomenda-se que, para evitar danos, seja feita por profissional qualificado e que sejam usados produtos recomendados pelo fabricante do equipamento.

Deve ser definida uma rotina de limpeza para cada equipamento, considerando a frequência de uso, o tipo e a quantidade de sujidade acumulada em função do uso.

Toda limpeza de ambiente e de equipamentos deve ser registrada em formulários distintos e específicos para esse fim, que devem ser preenchidos corretamente, sem rasuras. Trata-se de um registro cada vez mais solicitado em auditorias e vistorias sanitárias.

Os equipamentos do seu local de trabalho são limpos regularmente?
Existe programação e registro de limpeza dos equipamentos?

Periodicidade mínima recomendada para a limpeza completa de alguns materiais e equipamentos

Equipamento Frequência mínima de limpeza
Balanças 1 x / mês e sempre que necessário
Banho-maria 1 x / semana e sempre que necessário
Banho seco Quinzenal e sempre que necessário
Câmaras de conservação (4⁰ a 8 ⁰C ) 1 x / mês e sempre que necessário
Caixas térmicas para transporte de hemocomponentes 1 x / semana e sempre que necessário
Centrífugas 1 x / mês e sempre que necessário
Conector estéril de tubos 1 x / semana e sempre que necessário
Descongelador de plasma 2 x / semana e sempre que necessário
Freezers -30 a -80⁰ C 1 x / ano e sempre que necessário
Freezers -30⁰ C ou maior 1 x / semestre e sempre que necessário
Gelo reciclável 1 x / semana e sempre que necessário
Homogeneizadores 1 x / mês e sempre que necessário
Pipetas automáticas 1 x / mês e sempre que necessário
Seladoras 1 x / semana e sempre que necessário

Fonte: Elaboração da autora, adaptado dos procedimentos operacionais do Hemocentro de Campinas/Unicamp e de acordo com orientação de fabricantes dos diferentes equipamentos citados.

Tópicos Módulo 6

Processamento de materiais

Apesar do aumento do uso de materiais descartáveis, muitos dos usados em laboratórios são reutilizáveis, como as vidrarias e alguns materiais plásticos. Para a segurança do reuso, estes devem ser processados de acordo com critérios técnicos adequados e conforme o uso a que se destinam.

A RDC Anvisa n. 15/2012 (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2012) é a norma que dispõe sobre os requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde e recomenda que o processamento de materiais seja feito em um centro de material e esterilização, de acordo com as normas vigentes, e deve incluir as etapas de limpeza, desinfecção ou esterilização, definidas de acordo com a finalidade do uso de cada material.

Para o processamento fora do laboratório, o transporte de materiais sujos – das áreas até o local de processamento – e de materiais limpos – do local de processamento até o local de uso – deve ser feito de forma segura para prevenir acidentes e contaminação. Para isso recomenda-se que sejam transportados separadamente em caixas plásticas ou carros exclusivos para transporte de materiais sujos e outros exclusivos para o transporte de materiais limpos.

Conforme a RDC n. 15/2012 (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2012), a desinfecção química de artigos deve ser feita em local adequado, arejado, ventilado, com exaustão, e os profissionais que manipulam os produtos químicos devem usar EPI de acordo com o produto químico utilizado.

Processamento de materiais

Imagem extraída do vídeo produzido pela Asfoc/Fiocruz (2017).

O processamento de materiais no laboratório deve ser feito em uma área provida de pia e bancada para esse fim. Os produtos usados para a limpeza de materiais devem ter registro na Anvisa como produtos de uso hospitalar, seguindo os mesmos critérios aplicados ao Centros de Materiais Esterilizados (CME) quanto à limpeza e desinfecção.

Os materiais usados nas AT são classificados como não críticos, e o processamento inclui limpeza com detergente indicado para lavagem de materiais de laboratório. A desinfecção deve ser feita quando houver contaminação maciça, com o objetivo de garantir a segurança do usuário do material.

A desinfecção rotineira de artigos não críticos, que entram em contato apenas com a pele íntegra, é recomendada por normatização do Centers of Disease Control and Prevention (CDC/EUA). Porém, essa normatização pode ser questionada, pois, nesses casos, em geral, a limpeza é procedimento suficiente. Exceções são os artigos que se contaminam maciçamente com material orgânico e que devem ser limpos e desinfetados a cada uso em respeito às precauções universais (PADOVEZE; GRAZIANO, 2010).

Observe se em seu local de trabalho existem materiais que necessitam ser lavados e como isso é feito.
Verifique se o local e os produtos de limpeza estão adequados.

Considerações finais

A segurança do trabalhador e do ambiente de trabalho tem sido motivo de várias intervenções que incluem desde a criação de normas até a intensificação da fiscalização.

A elaboração e a implementação de protocolos de segurança visam a minimizar os riscos e promover um ambiente de trabalho seguro para o profissional e para o ambiente. No entanto, fatores como o desrespeito aos códigos de conduta, a falta de concentração durante o exercício das atividades e o baixo comprometimento são algumas das causas que desencadeiam os acidentes de trabalho. A infraestrutura deficiente, muitas vezes decorrente do olhar desatento dos gestores para esse aspecto, gera autuações dos órgãos fiscalizadores. A responsabilidade ambiental tem sido cada vez mais cobrada, obrigando todas as instituições a adotarem ações para o controle de quaisquer aspectos ambientais que possam causar impacto no meio ambiente. A adoção de práticas baseadas na metodologia da Produção mais Limpa (P+L) visa ao uso consciente de recursos naturais, como água e eletricidade, de matérias-primas e de insumos e à minimização de resíduo. É importante ressaltar a responsabilidade de todos para evitar desperdícios na realização de seu trabalho, bem como na segregação cuidadosa dos resíduos. Essas ações diminuem os custos relacionados à perda de materiais e ao gerenciamento de resíduos de serviços de saúde (RSS), desde a coleta até o tratamento e a disposição final, muitas vezes imperceptíveis aos olhos dos gestores da instituição.

Para promover um ambiente de trabalho seguro e minimizar os riscos ao ambiente é importante cuidar de todos aspectos abordados neste módulo. Este é mais um desafio para os gestores das agências transfusionais, que devem permanecer atentos a estas questões, manter a equipe atualizada, envolvida e consciente de suas responsabilidades. A segurança depende de cada um.

Para obter mais informações sobre a Produção Mais Limpa na hemorrede, acesse a publicação:Gestão ambiental: ecoeficiência e produção mais limpa nas práticas da hemorrede pública nacional

Tópicos Módulo 6

Atividade 7

1

Período de realização

Atividade individual

Fórum de discussão

Verifique, no ambiente de trabalho de uma AT, a prática dos conceitos abordados neste módulo: “Biossegurança, gerenciamento de resíduos e limpeza de ambiente, equipamentos e materiais”. Registre as situações observadas e suas considerações com base nas seguintes questões:

  • No local observado, foram evidenciadas as práticas adequadas das técnicas de biossegurança, gerenciamento de resíduos e limpeza?
  • Quais aspectos você identifica com oportunidade de melhoria?
  • O que você acha que facilitaria o cumprimento dessas práticas?

Considerando que o responsável pela AT deve estar atento a esses princípios, discuta com o tutor e seus colegas ações que poderiam contribuir para a melhoria dessas práticas e sua importância para a segurança dos trabalhadores, da qualidade do trabalho desenvolvido e do ambiente. Apresente a análise realizada por você sobre o ambiente de trabalho da AT observada para adensar esse debate.

Tópicos Módulo 6

Referências

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