Módulo 4 – Tecnologias sociais para a promoção da vida

Tecnologias sociais de saneamento ecológico

Nesta seção, você vai conhecer algumas tecnologias sociais voltadas para o saneamento ecológico. Nossa intenção não é apresentar um passo a passo detalhado para ensiná-lo a desenvolver sozinho todas essas tecnologias. A ideia é que, ao conhecê-las, você possa refletir em conjunto com a sua comunidade sobre quais as mais adequadas ou as que podem ser adaptadas à sua realidade.

Mas antes de apresentar essas tecnologias, sugerimos que você assista ao vídeo em que Tito Cals, membro do OTSS que atua especificamente na área de saneamento ecológico, faz um panorama do que será mostrado mais adiante!

Vídeo Introdução de Tecnologias Sociais de Saneamento

Agora, vamos aos detalhes sobre essas tecnologias.

Tevap

Tanque de evapotranspiração (Tevap), também conhecido como bacia de evapotranspiração (BET), fossa de bananeiras ou fossa biosséptica. É um equipamento que purifica e melhora a qualidade da água que vem dos vasos sanitários.

Local: Praia do Sono, Paraty, Rio de Janeiro.

Objetivo: Tratamento da água dos vasos sanitários.

O Tevap age, inicialmente, por meio da digestão anaeróbica da matéria orgânica; em seguida, ocorre a filtração, degradação pela ação de colônias de microorganismos (os biofilmes), que aderem ao material filtrante, e plantas (principalmente bananeiras e taiobas, mas também é possível a utilização de outras espécies macrófitas, frutíferas e/ou ornamentais). Elas utilizam os nutrientes presentes nesse meio para se desenvolver e transpiram para a atmosfera o excesso de água.

Pode ser usado para uma casa ou um pequeno grupo de casas. Sua maior desvantagem está no tamanho que o sistema pode adquirir no caso do uso para tratamento de grandes volumes, uma vez que o tanque precisa ter capacidade para receber dois metros cúbicos de volume por pessoa que o utilize diariamente, segundo a literatura sobre o assunto. Por exemplo: se uma casa tem três habitantes e utiliza o Tevap para escoar a água do vaso sanitário, será necessário um tanque que comporte o volume de seis metros cúbicos.

Fotografia de uma fileira de bananeiras que compõem um tanque de evapotranspiração construído na Praia do Sono, em Paraty.

Foto: Eduardo di Napolli/Comunicação OTSS.

Uma parceria entre a Associação de Moradores da Praia do Sono, o OTSS, a Fiocruz, o FCT e a prefeitura de Paraty contribuiu para construir onze módulos de tanques de evapotranspiração. O primeiro deles foi construído na escola da comunidade (foto); os demais, em dez residências na região.

O projeto todo teve como base a pesquisa-ação e a ecologia dos saberes. Os moradores estiveram presentes em todas as etapas, desde as tomadas de decisão até a execução dos projetos. Dessa forma, foram capacitados para multiplicar a tecnologia por todo o território.

O vídeo Saneamento ecológico Praia do Sono conta um pouco mais dessa história.

ENTRA VÍDEO!!!

Slide 1/6. Desenho esquemático mostrando as etapas do Tevap. A água do vaso sanitário desce pelo tubo de entrada até a câmara de digestão anaeróbica, um “túnel”, que pode ser de alvenaria (tijolos) ou de pneus. Após essa etapa, a água passa a subir através das camadas de entulho, brita, areia e solo, onde sofre ação de microorganismos e plantas, que ao final do processo evapotranspiram essa água para o ar.

Slide 2/6. Dois exemplos de câmaras de digestão anaeróbica e estrutura do tanque: pneus + hiperadobe (terra ensacada) e alvenaria.

Slide 3/6. 1ª camada filtrante: entulho.

Slide 4/6. 2ª camada filtrante: brita.

Slide 5/6. 3ª camada filtrante: areia.

Slide 6/6. Última camada com solo fértil e bananeiras.

Foto: Eduardo di Napoli/Comunicação OTSS.

Filtro de águas cinza

Local: Pouso da Cajaíba, Paraty, Rio de Janeiro.

Objetivo: Tratamento das águas cinza (de pias, tanques, chuveiros etc.).

Sistema composto por três caixas construídas com a técnica do plastocimento, que é constituído de plástico (os sacos de cebola costumam ser os mais utilizados), areia e cimento. O processo se inicia pela caixa de gordura. Em seguida, outras três caixas são preenchidas com brita, areia e carvão, respectivamente. Veja o desenho esquemático acompanhado da foto do filtro feito no Pouso da Cajaíba.

Desenho esquemático que mostra as caixas do sistema dispostas em sequência. Cada caixa está num nível mais alto que a seguinte e é conectada à seguinte por meio de canos: a primeira, no nível mais alto, é uma caixa de gordura; a segunda, uma caixa com brita; a terceira, uma caixa com areia; e a quarta, no nível mais baixo, uma caixa com carvão.

Fonte: Machado et al. (2019, p. 93).

Desenvolvido por Francisco Xavier, mais conhecido como Ticote, caiçara de Pouso da Cajaíba e fundador do Instituto de Permacultura e Educação Caiçara (Ipeca).

O filtro de águas cinza integra o Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil.

Slide 1/4. Preparação das placas de plastocimento.

Slide 2/4. Secagem das placas.

Slide 3/4. Montagem dos tanques.

Slide 4/4. Preenchimento dos tanques com brita, areia e carvão.

Foto: Eduardo di Napoli/Comunicação OTSS.

Círculo de bananeiras

Local: Praia do Sono, Paraty, Rio de Janeiro.

Objetivo: Tratamento das águas cinza (de pias, tanques, chuveiros etc.).

Assim como a maioria das tecnologias de saneamento ecológico, o círculo de bananeiras é originado da permacultura. Consiste em uma cavidade no solo, preenchida de matéria orgânica, com bananeiras e outras plantas ao seu redor, que são as responsáveis pela evapotranspiração da água captada. Dependendo da quantidade de água a ser tratada e do tipo de solo local, podem ser necessários dois ou mais círculos em paralelo. A seguir, apresentamos um desenho esquemático de um círculo de bananeiras.

Desenho esquemático que mostra como deve ser produzido o sistema de captação das águas cinzas. Um cano liga a ilustração de uma casa, desenhada à esquerda, e de uma pessoa, ao meio, ao círculo de bananeiras, mostrando o caminho que as águas cinzas fazem desde que são coletadas até o ponto em que acontecerá a evapotranspiração, com a água já limpa.

Fonte: Machado et al. (2019, p. 93).

Slide 1/4: Escavação do solo, geralmente com dois metros de diâmetro e um metro de profundidade.

Slide 2/4: Conexão do tubo e preenchimento da primeira camada com brita.

Slide 3/4: Círculo de bananeiras logo após a construção. Após as britas, a cavidade é preenchida com galhos grossos, depois médios e finos, além de palha. Ao redor do círculo são plantadas bananeiras, taiobas ou qualquer outra espécie que seja adaptada a ambiente úmido e tenha uma taxa alta de evapotranspiração.

Slide 4/4:Círculo de bananeiras consolidado.

Foto: Eduardo di Napoli/Comunicação OTSS.

Biodigestor + zona de raízes = biossistema

Local: Vale Encantado,  Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro.

Objetivo: Tratamento do esgoto de 150 pessoas.

O biodigestor é responsável pela digestão anaeróbica da matéria orgânica presente na água; e a zona de raízes, pela filtragem, por meio da ação de microorganismos e plantas.

O biossistema é capaz de remover mais de 90% da carga orgânica presente na água. Isso significa que ele “limpa” a água, deixando-a em condições seguras para retornar à natureza.

O biodigestor gera biogás, que é canalizado, filtrado e abastece a casa de uma família, responsável pela manutenção desse sistema. Essa manutenção consiste em podar as plantas da zona de raízes e verificar se existe algum entupimento na caixa de entrada.

Fotografia do biodigestor e de moradores e técnicos envolvidos em sua construção no Vale Encantado, Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro. As pessoas aparecem acenando em frente ao biodigestor ainda em construção.

Foto: Taboa Engenharia.

Projeto realizado por meio da parceria entre a Associação de Moradores do Vale Encantado, a Universidade PUC-RIO, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), a Taboa Engenharia e o Instituto Ambiente em Movimento.

Foi construído um modelo chinês de biodigestor, em alvenaria, para o tratamento da água de 27 famílias. E uma zona de raízes para o tratamento complementar.

Slide 1/14. Discussão entre moradores e técnicos para escolha do local de implantação do projeto.

Slide 2/14. Demarcação do local e início da fundação do biodigestor.

Slide 3/14. Assentamento das primeiras fiadas do biodigestor, sempre utilizando o raio-guia fixado no centro da estrutura.

Slide 4/14. Chapisco e emboço para garantir a estanqueidade do sistema.

Slide 5/14. Início da construção da cúpula: os tijolos são assentados inclinados, com guia ligada ao centro para garantir o correto posicionamento.

Slide 6/14. Como cada fiada é mais inclinada que a anterior, são necessários “contrapesos” para o assentamento correto dos tijolos.

Slide 7/14. Assentamento dos tijolos da cúpula do biodigestor e da caixa de compensação.

Slide 8/14. Fechamento da cúpula e assentamento da tubulação de saída do biogás.

Slide 9/14. Início da construção da zona de raízes (tratamento complementar).

Slide 10/14. Conferindo o nivelamento dos compartimentos da zona de raízes.

Slide 11/14. 1ª camada filtrante da zona de raízes: brita número 4 ou pedras de mão.

Slide 12/14. Detalhe do tecido geotêxtil que separa as camadas filtrantes e impede que a brita menor ocupe os espaços vazios da camada inferior, evitando, assim, o entupimento do filtro.

Slide 13/14. Antes e depois do plantio na zona de raízes. Inicialmente, foram plantados papiros, mas, com o desenvolvimento do sistema, diversas espécies nativas passaram a compor esta etapa.

Slide 14/14. Uso do biogás para cozinhar. Provavelmente, o primeiro ovo frito feito com biogás proveniente de um tratamento de esgoto em uma comunidade do Rio de Janeiro.

Fotos: Taboa Engenharia.

Captação de água da chuva e filtro lento de areia

Local: Areal, Espírito Santo.

Objetivo: A água da chuva, muito abundante em determinados locais, acaba sendo ignorada pela maioria da população, que não se beneficia dessa importante riqueza. Por meio de um sistema de calhas, filtro, tubos e um reservatório, é possível utilizar essa água para os seguintes fins: rega de jardins e plantações, lavagem de carros, limpeza de pisos e descargas de sanitários. Apesar de ter aparência límpida, essa água não é potável, logo, não deve ser utilizada para beber e cozinhar.

Slide 1/3. Desenho esquemático do funcionamento da captação da água da chuva.

Slide 2/3. Logo após passar pelo filtro, a primeira água da chuva é acumulada em tubos, para ser posteriormente descartada. Essa etapa é extremamente necessária, pois a água armazenada carrega toda a sujeira acumulada no telhado em períodos de seca.

Slide 3/3. Desenho esquemático do filtro de areia lento, que permite usos mais nobres da água captada da chuva, como banho, lavagem de louças e roupas, por conseguir desinfectá-la. As principais características do filtro são: baixo custo de materiais e manutenção, fácil execução, alta durabilidade e replicabilidade. Além de ser capaz de remover de 99 a 99,9% das principais bactérias contaminantes, ele é uma das mais antigas formas de purificação da água para consumo humano.

Fonte do slide 1: Permacultores urbanos ([202-)]. Fotos dos slides 2 e 3: Leonardo Tannous.

Atividade 3

Comente as seguintes questões:

  • Você já conhecia alguma das tecnologias de saneamento apresentadas? Existe alguma delas em sua comunidade de atuação? Caso haja, descreva brevemente como ela foi implementada (por exemplo, que instituições estiveram envolvidas no projeto, se você participou, como se deu a participação comunitária, principais problemas etc.).
  • Das tecnologias apresentadas, quais considera que poderiam ser reaplicadas no território em que você atua?

Lembre-se de seguir as orientações para execução e envio das atividades apresentadas no início do curso.

  • Esta atividade irá subsidiar o item 3 do Pats, referente à escolha de uma estratégia de implementação, e o 4, referente à viabilidade e recursos para esse processo (atores-chave envolvidos, instituições, parcerias).
  • Agora que chegamos ao final do tema “Tecnologias sociais de saneamento ecológico”, do Módulo 4, você deverá enviar esta e as demais atividades propostas.

Acesse o AVA para enviar as atividades 1, 2 e 3 deste módulo.