UAI - Cada escola, uma história
Atividade 2
Atividade 2
Trabalho de campo: mapeamento da escola
O roteiro de observação de campo está pronto. Agora é hora de aplicá-lo, olhando, ouvindo, interpretando e tomando nota, tirando fotos, fazendo vídeos etc. sobre tudo o que você observa no contexto da escola onde você atua sobre as três dimensões que compõem o roteiro.
Produto
1
Observação rica do campo, com registros diversos (fotos, vídeos, áudios, anotações etc.) a ser compartilhada no Fórum de suporte ao trabalho de campo.
Você está sendo convidado a realizar um exercício de mapeamento, que vai subsidiar, ao longo do curso, todas as demais atividades, incluindo a elaboração do TCC!
Neste exercício de mapeamento da sua escola, a ideia é explorá-la de um modo que talvez seja inédito para você. É importante, portanto, que você esteja disposto a realizar uma espécie de deslocamento que, sem retirá-lo de seu lugar de docente, lhe permita considerar sua escola como um objeto de pesquisa.
O que estamos propondo é que, durante este exercício, você se desloque para o lugar de um pesquisador muito curioso sobre os fenômenos que acontecem neste ambiente.
Sabemos que essa não é uma tarefa fácil, por isso, no breve texto de apoio “Mapeamento como exercício de pesquisa”, apresentam-se algumas indicações sobre o caminho, ou método, que você deverá seguir para realizá-la e, também, conversar sobre alguns desafios que, de antemão, sabemos que você vai enfrentar.
Paulo Freire (2001), na sua obra Pedagogia da autonomia, dedica um capítulo a comentar que todo professor é um pesquisador.
Primeiramente, é necessário esclarecer que o principal objetivo desta atividade é que você, considerando as três dimensões de análise do seu roteiro (Cultura da escola e culturas na escola, Saúde na escola e tecnologias na escola), identifique e descreva as práticas, as rotinas, as crenças, os valores, as linguagens e os significados que são partilhados pelo conjunto de pessoas que conformam o(s) grupo(s) social(is) que convive(m) na sua escola.
Podemos, por isso, dizer que seu interesse durante este exercício de mapeamento da escola estará voltado à identificação de elementos da cultura da escola, que, como você já viu em suas leituras, é produto das várias culturas que ali se entrecruzam. Esse foco de interesse na descrição da cultura é que nos leva a reconhecer, na abordagem etnográfica, um caminho que pode lhe ser útil.
Esteja certo de que não estamos esperando que você realize uma etnografia, no sentido estrito da palavra. Apenas entendemos que um pouco de conhecimento sobre alguns requisitos e estratégias próprios dessa opção teórico-metodológica podem ser úteis para que você faça o mapeamento da sua escola com mais segurança. De todo modo, é válido lembrar o bom conselho que nos dá o antropólogo americano Clifford Geertz (1988, p. 1, tradução nossa):
“[...] o que um bom etnógrafo deveria mesmo fazer é ir aos lugares, voltar com a informação sobre como as pessoas vivem lá e tornar essa informação disponível aos seus pares profissionais, de forma prática”.
Marli Eliza de André (1995) destaca que, à parte as exigências mais formais, típicas do campo antropológico, como a longa permanência do pesquisador em campo e o uso de categorias sociais amplas para análise dos dados, os trabalhos do tipo etnográfico em educação caracterizam-se:
Por enquanto, focalize sua atenção nos cinco primeiros requisitos indicados acima. Esses requisitos indicam a atitude que você deve se esforçar para manter durante sua imersão no campo (sua escola), bem como algumas ações que esperamos que você desenvolva durante esta fase, que o mesmo Geertz (1988, p. 1) chamou de “estar lá”.
Roberto Cardoso de Oliveira (2006) considerava que uma parte importante do trabalho antropológico consistia em olhar, ouvir e escrever. É, pois, importante, que você considere que, estando em campo, seu olhar e seu ouvir serão as muletas que lhe permitirão “caminhar, ainda que tropegamente, pela estrada do conhecimento” (OLIVEIRA, 2006, p. 21), e que esse olhar e esse ouvir não são neutros, mas, sim, “disciplinados” (OLIVEIRA, 2006, p. 18) não só pelos conteúdos das leituras que você realizou até aqui no âmbito deste curso, mas, principalmente, por tudo o que você viveu e vive durante o extenso processo de socialização que lhe transformou em um indivíduo enredado na “teia de significados” (GEERTZ, 1989, p. 4) que constitui sua própria cultura.
É desse fenômeno de impregnação teórica e etnocêntrica das faculdades de percepção que decorrem os principais desafios que você enfrentará durante seu exercício de observação. É preciso que você tenha claro, desde o início, que, independentemente do objeto que você esteja investigando, ele sempre será apreendido pelo esquema conceitual da disciplina [ou da teoria] que formou sua maneira de ver a realidade (OLIVEIRA, 2006). Por isso, durante a pesquisa de campo, seu olhar e seu ouvir deverão estar dotados de esquemas teóricos de interpretação e de análise que lhe permitam alcançar o significado das relações sociais que se estabelecem diante de seus olhos e ouvidos, definindo os fenômenos que você observa em sua escola. Também para isso serviram as leituras que você fez até aqui.
Também é importante alertá-lo que a relativização e a desnaturalização são dois outros desafios inescapáveis no percurso de qualquer levantamento de campo desse tipo, dada a própria natureza epistemológica dos estudos etnográficos, que, como vimos, têm, no próprio pesquisador, o principal instrumento de coleta e de análise dos dados.
Sobre a relativização, cabe-nos destacar que, o tempo todo, suas observações e análises estarão filtradas, para o bem e para o mal, pelas perspectivas filosóficas, políticas, ideológicas etc. que integram sua cultura. Essas perspectivas podem, com alguma facilidade, fazê-lo superestimar o que lhe salta aos olhos como diferente, induzindo-o a interpretações valorativas e a julgamentos que não correspondem ao objetivo de um exercício desta natureza (ANDRÉ, 1995).
É fundamental, portanto, que você seja permanentemente sensível ao modo como sua própria cultura pode afetar seu registro de dados e suas interpretações, cuidando de identificar essas possíveis interferências, de revelá-las aos seus leitores e de valer-se da triangulação de métodos, fontes, informantes, esquemas teóricos de análise para controlá-las, esforçando-se para adotar a solução contida no exercício permanente de considerar-se reflexivamente, acatando a sugestão de Claude Lévi-Strauss, resgatada por Minayo (1999). Para esse eminente antropólogo francês, numa ciência em que observador e os observados são da mesma natureza, o observador, ele mesmo, é parte de sua observação e, por isso, há que se perceber integrante do objeto do estudo e analisar os limites e as possibilidades com os quais lida no empreendimento de seus esforços em transcender o lugar que ocupa e relativizá-lo.
Ainda nessa linha, sobre a desnaturalização, lembremos do que sugerem Gilberto Velho (1978), Roberto DaMatta (1978) e Tânia Dauster (1997). Ao se pesquisar o familiar, há vantagens e riscos, pois, apesar da familiaridade de que o pesquisador dispõe nesses contextos de investigação, ao se debruçar sobre um contexto que lhe é próprio, seu entendimento estará comprometido por suas rotinas, seus hábitos e estereótipos, e isso faz com que haja, no processo de estudo desses contextos, dificuldades diferentes daquelas encontradas no percurso da investigação de outros que lhe sejam exóticos.
Uma dessas dificuldades está no fato de que a familiaridade com o contexto não assegura o conhecimento do ponto de vista e da visão de mundo dos diferentes agentes em uma situação social, nem das regras que regem essas interações e promovem a continuidade do sistema. Pior, a familiaridade pode influenciar negativamente as possibilidades de preservação das necessárias atitudes de estranhamento e de relativização a que estão vinculadas as capacidades de análise das relações sociais observadas, de questionamento de categorias abstratas e de conhecimento mais complexo da realidade; enfim, da descoberta e interpretação das teias de significados que fundamentam todo o trabalho etnográfico (VELHO, 1978; DAUSTER, 1997).
Indicando caminhos para a validação, Gilberto Velho (1978) observa que a exposição a que o pesquisador está sujeito quando estuda a própria sociedade orienta quanto à aceitação ou rejeição das interpretações por ele elaboradas, principalmente pelo fato de os sujeitos da pesquisa poderem discordar dessas interpretações e se manifestar contrários a elas. Para o autor, sob esta perspectiva, o estudo do familiar oferece vantagens em termos das possibilidades de revisão e de enriquecimento dos resultados. Eis por que, no decurso da investigação de campo, você deve destinar algum tempo à discussão, com alguns dos agentes envolvidos, das suas interpretações sobre os registros tomados em campo, com alguns dos agentes envolvidos.
Para que seu mapeamento reflita o máximo possível a “realidade”, é necessário que você se distancie um pouco dos fenômenos com os quais vai se encontrar, para que sua rotina, maneiras de entender e fazer não predominem.
Agora é com você!
Atento a essas primeiras orientações, é hora de partir para esta aventura de exploração. Volte a este texto e aos outros que lhe foram apresentados nesta unidade de aprendizagem sempre que precisar.
Além disso, o Fórum de apoio ao trabalho de campo – mapeamento da escola – poderá ajudá-lo a tornar sua vivência do campo mais proveitosa. Não deixe de partilhar ali suas dúvidas, hesitações, sucessos e insucessos diários, pois eles constituem um rico acervo que pode ser muito útil para você e para seus colegas.
UAI - Cada escola, uma história
Atividade 2